“No corpo Teu,oh Deus! eu vejo todos Os deuses,os degraus de seres todos;
Noto o Brama, sentado em flor de loto,
E a seu redor os Santos com os Sábios.
Inúmeros Teus braços são,e os olhos;
Inúmeros Teus peitos,(Tuas bocas.
Eu vejo que no Teu Ser infinito Não há princípio,ou meio,ou fim algum.
Sobre a cabeça trazes a coroa,
Na mão o cetro e o disco segurando.
Por toda a parte Irradias viva Luz,
Tão forte, que os olhos meus ofuscas.
És indiviso,oh Rei dos entes todos!
A Lei e o Coração de todo o Cosmos;
Tu és o Alvo mais do saber,—
De todo ser que existe,a Eterna Fonte.
Não tens princípio,meio ou fim algum.
É eterno o Teu poder,a Tua ação.
Teus olhos são o claro Sol e a Lua,
A Tua face brilha como fogo.
Com Tua luz,Tu enches os espaços,
O Teu amor aquece os mundos todos;
Todas as terras,todos os empireos
De Ti, de Tua Glória cheios são.
Porém,vendo a estupenda face Tua,
Os mundos tremem,fogem-Te os demônios,
E as multidões dos santos e dos pios,
As mãos estendem, dando-Te louvores.
Com hinos Te celebram,Grande Deus,
Arcanjos, querubins e serafins,
E todos os mais entes celestiais.
Reunindo-se em falanges numerosas,
Admiram,oh Senhor! a Tua forma.
Os mundos,vendo a Tua majestade,
Pasmam,e em mim palpita o coração.
Com a cabeça tocas o alto céu,
Em milhares de cores resplandeces;
A Tua boca aberta está,horror!
E como os grandes olhos Teus flamejam!
Teus dentes,aí! se ouriçam e me assustam,A Tua boca ao mundo lança incêndio.
Que aspecto aterrador é para mim!
Já perco os meus sentidos;tem piedade!
De Dhritarashtra os filhos, e com eles
A multidão dos grandes generais,
O invencível Bhishma,Drona, Karna,
E dos guerreiros nossos os mais fortes…
Desaparecem nessa horrível boca,
Da qual os aguçados dentes vejo.
Ah!Muitos vejo já com membros triturados;
Despedaçados são por esses dentes!
Como os rios,correndo ao mar enorme,
Com rapidez ao alvo seu encaminham,
Irresistivelmente vão lançar-se
Esses heróis em Tua garganta ardente.
Como as moscas, à luz da vela voando,
Vão perecer na chama que procuram:
Assim os mundos. vão se aproximando,
A passos apressados,do seu fim.
Em Tus lábios,Senhor,em Tua garganta,
Todos os mortais sumir-se eu vejo;
A Tua luz penetra todo o mundo,
E Teus fogosos olhos queimam tudo.
Oh! dize-me quem és,que tão terrível
Aspecto tens?
Perante Ti me prosto;
Oh! tem piedade!quero conhecer-Te,
Mas esta aparição eu não compreendo.”
O Sublime fala:

“Eu sou o Tempo,destruidor dos mundos.
Sob esta terrível forma,aqui
Me empenho na destruição
Desta multidão de príncipes.
De todos os guerreiros que aqui vês,
Nenhum Me escapará.
Só tu os sobreviverás.
Levanta-te,pois,teu é o poder;
Combate,Tu serás o vencedor,
Meu braço já abateu teus inimigos;
Seh instrumento Meu; seh Meu executor.
Derrota todos: Bhishma,Drona, Karna,E Yayadratha com os mais heróis;
Eu já os destruí,não estremeças!
Coragem! e serás o vencedor!”
Sanjaya:
O heroico Arjuna,ouvindo estas palavras do Senhor dos mundos,prosternado e humilhado estendeu as mãos e disse com trêmula voz:
Arjuna:
“O mundo,com razão,Senhor,se alegra Em Tua Luz e Tua Majestade.
Adoram-Te com júbilo os anjos,
Porém,fogem de Ti os maus,os demos.
A Ti pertence a glória,a Ti somente,Ser dos seres,mais alto do que Brahm!
Espírito Infinito,Único,Eterno,Que,ao mesmo tempo,o Ser és e o. Não-ser!
Tu és o Deus Supremo,o Criador,(Emanador),Sustentador de todo este Universo;
De todos os seres és a Origem,
És a Verdade estável,e o Saber.
Tu és o fogo, es a água,o Vento,a Terra, A Lua;és o Senhor e o Pai dos homens,
Somente a Ti pertence a glória vera,
A Ti somente deve-se adorar.
Senhor,louvado sejas nas alturas
E nas profundidades dos abismos;
Sem fim é o Teu poder e Tua força,
Tu és o Todo,e tudo Tu sustentas.
Perdoa-me que,confidentemente,Eu Te chamava: “Oh Crisna!amigo meu!”
Perdoa-me esta leviandade,
E a falta de respeito a Ti devido.
Perdoa as faltas minhas,cometidas,Talvez,no gracejar,em companhia,
Ou quando estava só,em pé,no leito,
Parado ou caminhando,em ignorância!
Oh Senhor do Universo!Pai de tudo!
Oh Fonte do Saber!Supremo Mestre!
Não há ninguém que seja igual a Ti,
Tu,Infinitamente Poderoso!
Humildemente, prosto-me a Teus pés,
Imploro,meu Senhor,Tua clemência:
Oh! se-me afável,como o pai ao filho,Como um amigo,ou um amante,ao outro.
Morando as Tuas Maravilhas,
Me extasio, porém temor me invade;
Desejo em outra forma contemplar-Te;
Oh!Mostra-Te,Bondoso, noutro aspecto!
Desejo ver-Te,como eu antes Te vi;
Ver-Te com a coroa,o cetro e o disco.
De novo,aparece-me nessa forma,
Que me sugere amor,e não me espanta!”
Disse Crisna:

“Por Meu poder contenplaste,Arjuna,Infinita e radiante, a minha forma,
Que em si contém dos seres o conjunto;
Ninguém dos outros inda assim Me viu.
Nem dos Sagrados Livros os estudos,
Nem esforços mentais,nem sacrifícios,
Nem boas obras,nem a penitência
Me podem revelar assim aos homens.”
Não temas,não te assustes,caro,
Por teres visto esta minha forma;
Liberta-te de todo o medo”e vê-ME
De novo,agora,em minha forma humana.”
Sanjaya:

Pronunciadas estas palavras,apareceu Crisna ao príncipe Pandava outra vez em sua forma usual,com a expressão da suprema bondade e meiguice,tranquilizando assim o atemorizado Arjuna.

Arjuna recuperando a tranquilidade de ânimo,exclamou:
“Oh!como se acalma o meu espírito,quando me apareces em Tua pacífica Forma humana!”

Respondeu Crisna:

“A forma em que me viste,ó príncipe! é tal,que a poucos é dado contempla-la.
Os deuses,os arcanjos e os espíritos dos mais altos céus desejam ardentemente vê-la,mas não podem encarar-ME como tu ME encaraste.
A esta visão não se chega pela leitura das Escrituras,nem por voluntários martírios,nem pela distribuição de esmolas ou sacrifícios.
Só pelo verdadeiro amor e verdadeira devoção se pode chegar ao conhecimento do MEU SER,e conhecer e ver e penetrar MINHA ESSÊNCIA.

Quem tudo faz em MEU NOME; quem ME reconhece como o alvo de todos os seus mais nobres esforços; quem ME adora,livre dos apegos e sem odiar a ninguém,esse chegará a MIM.

Deixe um comentário